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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Continuamos INcapazes ou ainda no "otro lado del río"





Cusco em dezembro de 2009, vista do albergue na Cuesta de Santa Ana

Sabe aquele ditado que diz "cuidado com o que deseja, pode acontecer"? É o que devem estar pensando os turistas presos em Cusco, Machu Picchu e Aguas Calientes, no Peru, após as chuvas torrenciais que provocaram a elevação do nível do rio Urubamba - que em dias de chuva fraca é bastante agitado - e deslizamentos de terras que resultaram em quedas de pontes e interrupção de trilhos. Eu tive mais sorte ao fazer a mesma visita, e embora soubesse que era o início da estação das chuvas, não me assustei - e fique claro que não me arrependo e continuo recomendando apesar de tudo que vi e escrevi - pois sempre disseram ser raro chuva forte como ocorreu e que por isso mesmo surpreendeu. No entanto, isso não se aplica a quem faz trilhas, que deveria mesmo evitar o período.


Rio Urubamba, em Aguas Calientes, em um dia de chuva fina de dezembro (2009)

Acontece que no ano passado ouvi em Madri que lá é raro nevar, e neste ano também houve exceção. Culpa de São Pedro, da mãe natureza, ou nossa? E, mesmo assim, e as providências tomadas após o ocorrido, são satisfatórias?


Estação de trem onde estão os turistas (em um dia normal, dezembro 2009)



Os turistas vão sair de lá, felizmente, em segurança, ao menos a imensa maioria. Mas e a população que fica?


Caminho para Machu Picchu (dezembro 2009)



A ponte por onde passei em Pisac, caiu. Eu não vou passar, provavelmente, pelo mesmo local. As pessoas que moram lá, sim.


Trabalhadora no Vale Sagrado (dezembro 2009)



Os trilhos ligam o caminho que praticamente só os turistas fazem. Qual ficará pronto mais rápido? Talvez o povo de Pisac tenha sorte, afinal, estão no roteiro turístico. O Peru deveria, inclusive, acrescentar uma rota turística para voluntários, já que há tantos que fazem as trilhas e caminhos mais difíceis, para que estes - e também os demais, cada um de acordo com suas possibilidades - auxiliem a população local. São eles que mantêm o que está lá, o tesouro é este, pois foram pessoas assim que construíram as maravilhas que nos deslocamos para ver.



Sorte: céu aberto em Machu Picchu (dezembro 2009)


Para a população local não vi nada muito diferente do que assisti no filme "Diários de Motocicleta". Outro dia comentei, em tempos de Fórum Social Mundial, que, sim, um outro mundo é possível. Mas é lento, bem, mais lento. Em Cusco os nativos comentam em tom de piada que as construções dos Incas estão lá até hoje, e que o que cai foi obra dos INcapazes, ou seja, os colonizadores. Em último caso, após todos estes anos, somos todos incapazes de tomar cuidados, precauções, providências.







Incapazes de subir, que dirá de construir. 


Vi muita sinalização com relação a terremotos, mas nada sobre chuvas. Afinal, há décadas não acontecia nada semelhante. Mas as narrativas (aqui e aqui) dos brasileiros são reais, em Cusco, é frio à noite e pela manhã, e há precariedade em serviços como em toda a AL. Mas, novamente, os nativos vivem isso diariamente. É o "otro lado del río" chegando mais perto...



Peruana caminha sozinha em Ollataytambo - e não apenas lá


Sonhos e pesadelos, enfim, podem caminhar juntos. Um outro fator que pode salvar ou dar dor de cabeça à muita gente, são as companhias aéreas. Outro dia, eu mesma fazendo uma queixa porém sobre outro assunto no Juizado Especial Cível, no Foro Central, em Porto Alegre, conheci um rapaz que iria viajar nesta época a Cusco pela LAN Peru, que também utilizei. Porém, como comprou uma passagem para nativos, teria que pagar uma multa que acabava sendo maior que a passagem, e a companhia se negava a, pelo menos, cancelar a passagem, já que afinal não havia voado. Hoje esse rapaz deve estar agradecendo todo o stress sofrido. O mesmo testemunhei em casa, com uma desistência de viagem na família devido à confusão da recém instalada Taca, que possui promoções ótimas mas problemas sérios na comunicação destas promoções, o que acabou - felizmente - evitando esta viagem que estaria acontecendo bem nesta semana. Eu, particularmente, escapei da segunda. Não sei quanto tempo a sorte me acompanhará, mas me solidarizo com essas pessoas que não são turistas e que vivem essa realidade todos os dias.


Moradores do bairro do Passo, em São Borja, sofrem com a enchente 
Foto:Claudio Gottfried (Zero  Hora, 02/11/2008)

Aqui mesmo em São Paulo, no interior do RS, São Borja, região de Montenegro... para citar alguns. Esse filme eu não quero rever nas manchetes de jornais (aqui, aqui, aqui...), mas ele acaba sempre lá.


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