Segunda Vida
Então agora funciona assim: aquela história de que na próxima vida se conserta tudo, pode se tornar verdade. Pelo menos se você tiver computador. Daí dá pra imaginar tudo o que quiser: que você é rico, bonito, famoso, pacote completo. Mas é claro que até pra sonhar é preciso um mínimo de estrutura. Além do computador, tem que ter familiaridade com o sistema. Ao, menos, agora, não precisa ser bilíngüe, pois foi lançada uma versão em português da sensação do momento, o Second Life. Até mesmo grandes empresas, multinacionais, já lançaram seus escritórios no mundo virtual. Não que você seja obrigado a ter negócios lá, mas sabe como é, o mundo é das aparências, mesmo aqui. Fica feio não estar no sistema, ou estar e não dançar conforme a música.
Cada vez mais, em vez de acharmos solução para as diversas formas de exclusão existentes, damos um jeitinho de nos isolar - e aos outros - cada vez mais. Já há algum tempo, fui em uma reunião com pessoas familiarizadas com Internet, chats, IRC e ICQ - o orkut e MSN/Skype da pré-história, onde as pessoas se tratavam pelo seu nick. Eu, inclusive. Só que tive a idéia de levar pessoas NORMAIS junto, que, naturalmente, não entenderam nada. Imagine quem além de normal ainda se recusa ou não tem chance de entrar nesse novo mundo. Não tem chance porque ainda vive a sua First Life, com direito a fome, sono, necessidade de ganhar dinheiro para sustentar a si, à sua família... "coisa de pobre", sabe? Infelizmente, só no Second Life é que não corre-se o risco de morrer de fome, cansaço, depressão... mais ou menos como aquele slogan de cartão de crédito "pra quem não precisa".
Ontem, assisti a estréia de um novo seriado-reality show - diga-se de passagem, de horrores. Uma mistura de seriado adolescente com o de donas-de-casa que virou uma ode à vida fútil de um bando de peruas ricas. "Meu irmão ganhou uma Mercedes nova e eu só usada, minha mãe não me ama." como assim?! Bem, no Second Life isso também é possível, ou quem sabe naquele jogo The Sims. Mas, e aqui?
Aqui continuamos nos colocando atrás das grades, já que não conseguimos colocar, manter, e menos ainda regenerar quem por merecimento deveria estar. Também não são os integrantes do crime organizado, os grandões, que são presos, esses, no máximo, passam uma vergonha passageira, quando descobertos, mas logo conseguem se safar. É a sociedade midiatizada, globalizada, cada vez mais individualista, egoísta, alienada, acomodada e - é claro - amedrontada. Porque não é só uma questão de comodismo, mas também de medo, pois são os maiorais que estão encabeçando a lista.
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