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segunda-feira, 21 de abril de 2008

As notícias que não queremos dar

Dizem que boas notícias não vendem jornais. Não dão audiência. E isso pode indicar que somos muito mais mórbidos do que reconhecemos em voz alta. Devemos ser, mesmo. Basta ver o noticiário na tv, o tempo dedicado a tragédias de toda a ordem. Os filmes, séries, novelas, tudo o que há de mais consumido e vendido, está sempre relacionado aos sentimentos menos nobres do ser humano. Mesmo quando há amor envolvido, há também ódio, ciúme ou perda, e a justificativa é a de querer representar bem a realidade. Bem, isso é apenas um ponto de vista.

Talvez seja exatamente o contrário (ao menos no jogo do contente). Uma busca pelo que há, sim, de humano, mas não pelo prazer de ver a ruindade, mas pela capacidade que ainda nos resta de nos admirar e aterrorizar com a crueldade; algo que mexe com o nosso interior, por medo, por incredulidade, por não entendermos como um semelhante nosso pode chegar àquele ponto. E, sim, um pouco de alívio por ainda não ter chegado lá.

A vida continua e é muito complicado para quem fica aceitar passivamente que alguém querido se vá, sem mais, nem menos. Mesmo quando há uma doença e uma certa iminência no fato. Até porque nós sempre achamos que as pessoas vão estar sempre ali, e não conseguimos entender como é que a partir de um dia qualquer elas podem nunca mais estar. Mas algumas mortes são impossíveis de não considerarmos estúpidas, seja pela impotência da vítima (e nossa), seja pelo motivo, seja por critérios mais complexos e subjetivos, como o "merecimento". Desculpem, mas também é humano questionar porque alguns se vão e outros ficam.

Daí surgem outros sentimentos, perguntas e reflexões: como estamos vivendo? que estamos fazendo (ou não) para "merecer" ter ficado? existe esse merecimento? ir ou ficar é prêmio ou punição? nossas ações realmente repercutem de forma maior e mais justa que a nossa (vã) Justiça?

E se é que os anjos choram

Quando se descobre que além de ter perdido um amigo muito especial ele não teve ajuda do motorista que o atingiu, se torna difícil não fazer essas perguntas, e até mesmo manter o espírito elevado. Então algo nos diz para deixar para lá, afinal, nada vai mudar o problema principal: o de que aquele amigo não vai voltar(exatamente aquele pra quem ligaríamos numa situação dessas, não fosse ele a vítima). Mas como deixar de pensar que outras pessoas, amigos de mais alguém, estão à mercê de gente assim, sem nenhuma responsabilidade ou compaixão? Pode ser que, enquanto conseguirmos nos indignar com notícias como essa, ainda tenhamos esperança. Evitar o noticiário é cômodo, mas ainda é compreensível, já que gera medo e dor. Mas ver... e não sentir nada?

Se existem anjos, e se eles choram, eu entendo a chuva que caiu do dia do acidente até o momento que ele nos deixou. Choraram porque fracassaram e sabiam que um deles estava indo mais cedo para casa. Já o sol da despedida, acredito que tenham sido eles, também, abrindo os braços para recebê-lo (de volta, como anjo que sempre foi).

Ou, talvez, em outro plano, isso tudo tenha sido apenas um susto, algo que vamos comentar entre um copo e outro de cerveja, com outros amigos, e que depois de alguns anos nem vamos lembrar. Invejo meu eu desse plano.

Assim tivesse sido.

Até mais, meu amigo. Saudades.

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