Pra não dizer que não falei das flores (repro)
Este foi um post meu em outro blog, pessoal. Mas, depois de pensar um pouco, acho que é preciso registrar aqui. Infelizmente.
Pra não dizer que não falei das flores
Eu não vou repetir o que já foi dito sobre a tragédia que se passou na última semana. Muito já foi dito. Talvez, até demais. Falta, mesmo, é ser feito, com responsabilidade e competência, porque até agora só foi gerada mais confusão. Mas, além da tristeza com o que aconteceu e a indignação com relação ao desgoverno geral - federal e municipal, pois se os aeroportos são de responsabilidade federal, o crescimento da cidade é municipal -, fiquei muito decepcionada com a relação da imprensa com o caso. Não com a questão política, como já era de esperar. Com a humana, mesmo.
Tenho uma amiga que perdeu pelo menos 13 amigos no acidente. O que me faz lembrar a importância de estar sempre em contato com os amigos e de viver fazendo o que se gosta, com prazer, porque nunca se sabe quando é a nossa vez. E, nesse ponto, eu posso me considerar feliz. É claro que quero fazer muito mais, e se tiver tempo, farei. Mas, se não tiver, não tenho o que lamentar.
Claro que liguei para ela, afinal, além de tudo, ela havia trabalhado lá até pouco tempo atrás. Sabe-se lá quanto risco não correu. E sabia também que conheceria muita gente envolvida no acidente. Então, além de ouvir a voz para tranqüilizar a mim mesma, era também uma chance de deixar ela falar, desabafar. E o primeiro desabafo foi: "Me diz uma coisa: jornalista aprende a ser insensível na faculdade?". Juro que não esperava por essa. Bem, talvez de alguns programas sensacionalistas, mas o quadro que ela pintou, o comportamento dos "colegas" em geral, foi realmente vergonhoso e deprimente. Gente que empurra em plena missa, que faz perguntas idiotas e inoportunas, que não tem tato pra chegar nos amigos e familiares que estão passando por um momento difícil, que passa fotos pelo laptop em plena igreja... pra resumir. Achei que esse tipo de comportamento tinha ficado na Montanha dos sete abutres. Mas, infelizmente, não ficou. Despreparo, pressa, vontade de aparecer, e muito mais. Lamentável.
Um pouquinho de humanidade faria bem tanto aos chefes e editores como aos repórteres. Claro que não dá pra generalizar. Depois que a raiva passou e eu expliquei que apesar de tudo isso e de ser execrável a atitude, jornalismo deveria ser SERVIÇO e que a notícia precisa ser dada, afinal, há amigos e familiares que querem e precisam se inteirar, ela até relatou duas boas almas que honraram a profissão e agiram bem. E tem a parte política, sim, que precisa indignar pra coisa não continuar como está. Mas é preciso ser feito com tato, com respeito, delicadeza, enfim, atitudes que o momento exige.
Espero, sinceramente, que os colegas não passem por situação semelhante para precisar aprender. Mas também espero que, se a educação não veio de berço nem da escola, que ao longo da sua trajetória - o mais rápido possível - aprendam a agir corretamente. Se possível, que a faculdade torne obrigatória a disciplina de Psicologia social, e talvez inclua a de Assistência Social. Porque, do jeito que está, infelizmente está uma terra de ninguém, onde não me parece que o tão defendido diploma -, inclusive por mim - esteja fazendo efeito na qualidade do nosso jornalismo.
O relato foi sobre a imprensa em São Paulo, mas fica a reflexão, pode ter acontecido em qualquer lugar. Sei que não preciso me preocupar com os colegas gaúchos que conheço, mas não tenho a ilusão de que sejamos a fina-flor. Só desejo que eles sejam uma luz e uma inspiração para os que ainda não despertaram do seu mundinho.
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