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sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Somente a profissão de imbecil não exige diploma"


A frase-título acima está na entrevista de Jayme Copstein ao jornal Versão dos Jornalistas, do Sindicato do RS, disponível em http://www.jornalistas-rs.org.br/pdf/versao_86/06.pdf Mas não é dele, é do jornalista que dá nome ao principal prêmio do mundo na área: Pulitzer.

O texto desta entrevista e do post abaixo explicam-se sozinhos, mas para o leitor que estiver com preguiça e argumentar apressadamente que justifico com exemplos de pessoas que não cursaram cursos específicos. Bem, o próprio Copstein responde a essa pergunta quando questionado por um leitor. Ele lembra, por exemplo, que os problemas nos cursos e na educação não estão apenas no jornalismo. Lembra também que a política educacional é que deveria estar em discussão. E que não era o que estava em julgamento no STF, que julgou "a pura e simples extinção da regulamentação do exercício profissional do Jornalismo". Ele afirma que a pergunta que se impõe é: por que só o Jornalismo? "É uma profissão inferior à medicina, à engenharia, à odontologia, ao direito?", argumenta. E, lembra muito bem, respondendo a outro leitor, o quão longe chega a responsabilidade de um jornalista: "Já vi gente induzida ao suicídio por notícia de jornal. Deve haver exemplos similares em sua área. (...)"

Para quem acha que o material está desatualizado, recomendo a leitura do que o jornalista publicou hoje em seu site:

Pensei em juntar duas coisas – Zé Sarney acusando jornais de terem inventado as "comilanças" do Senado e a argumentação do ministro Gilmar Mendes, cassando a exigência de diploma universitário para o exercício do jornalismo: "(...) Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área".

Pensei, mas não juntei. Uma coisa é o alho do mestre-cuca, outra, o bugalho do jornalista. Ambos, presidente do Senado e o presidente do STF, confundem as situações. Nem os jornais inventaram a "comilança" dos políticos nem o cozinheiro é responsável por clientes que saem sem pagar a conta. Há mais coerência nesta comparação – o político corrupto e o cliente tratante – que na base da decisão do STF, o falso conflito entre a exigência do diploma para o exercício profissional do jornalismo e a liberdade de expressão garantida pela Carta de 1988.

É balela que ofende a inteligência e o bom-senso. O diploma do jornalista não inibe o livre pensar nem sua livre manifestação. Jornais, as emissoras de rádio e tevê reservam espaços generosos para os colaboradores, convidados ou não, aos quais basta enviar a matéria em originais legíveis, respeitadas as normas de linguagem e a limitação do espaço. Da mesma maneira, a interação, através das cartas de leitor, do e-mail ou telefonemas de ouvintes e telespectadores, é parte importante das atividades do jornalismo de hoje, e isso já escrevi antes, nesta mesma coluna, quando não esperava decisão tão retrógrada da corte suprema do país.

Escrevi e repito: acho que chá de urtiga cura câncer, mas a excessiva regulamentação da Medicina me impede de salvar a humanidade. Mas posso dizer que cura. Igualmente, tenho ideias muito próprias de como aplicar leis e emitir sentenças. Ninguém me proíbe de dizê-lo, como estou fazendo aqui neste momento. Nem por isso estou reivindicando o fechamento dos cursos de Direito e a abolição dos tribunais, apesar de impedirem, segundo a ótica do STF, a livre manifestação do meu pensamento por me proibirem de fazê-lo na prática.


Não é à toa que a OAB nacional já manifestou apoio aos jornalistas.

Colégio de Presidentes da OAB lamenta decisão do Supremo contra jornalistas

O Colégio de Presidentes de Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil, por unanimidade, lamentou hoje, 19, a decisão do Supremo Tribunal Federal que pôs fim ao diploma de jornalista, bem como ao registro profissional no Ministério do Trabalho. Em sessão plenária dos 27 presidentes da OAB dos Estados e Distrito Federal, conduzida pelo presidente nacional da OAB, Cezar Britto, o Colégio expressou sua preocupação com as conseqüências de tal decisão para a sociedade brasileira, em seus aspectos técnicos e, sobretudo, éticos.

O Colégio de Presidentes das Seccionais da OAB referendou posição do presidente nacional da entidade, Cezar Britto, de que o Supremo não avaliou corretamente o papel do jornalista e suas implicações para a liberdade de Imprensa no país. Para os dirigentes das Seccionais, a decisão pode prejudicar a independência e qualidade futuras do Jornalismo brasileiro, antes garantidas pelo diploma e o registro profissional do jornalista abolidos pelo STF. Além disso, eles manifestaram preocupação com o precedente que a medida pode representar, colocando em risco conquistas históricas de outras profissões regulamentadas no país.

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