Em tempos de "orgulhos" diversos circulando por aí, hoje recebi de uma pessoa que respeito uma mensagem provocativa sobre o tema e questionando se seria exagero ou realidade um texto atribuído ao jurista Ives Gandra. Nesse texto ele afirma(ria) que o "cidadão comum e branco" estaria sendo vítima de perseguição. Nem vou entrar no mérito do que é comum e de quem é branco no Brasil, mas, vamos lá... o título desse suposto texto é "Branco, honesto, contribuinte, eleitor, étero [sic]... Pra quê?" (Ives Gandra escrevendo "étero"? Para mim é mais um texto atribuído a pessoas conhecidas circulando pela rede para ganhar mais importância do que se fosse apócrifo ou de um desconhecido. Bom, seja de quem for...)
Ainda sou uma privilegiada: sou branca, eleitora, contribuinte, honesta, heterossexual, e fora o fato de ser mulher, dependendo do país onde for posso viver uma vida quase sempre sem diferenças. Eu disse "quase": os cargos de chefia e as melhores remunerações ainda são menores para mulheres do que para homens, mesmo onde já somos maioria. Na política, somos poucas. Falta de interesse ou de estímulo? Mulher, se é durona, é sapatão ou mal-amada. E quem dá chefia para homossexuais assumidos fora do mundo da moda, da noite, de lugares considerados mais "descolados"?
Tem muita coisa pra mudar. E adoraria que nenhuma medida fosse necessária para isso, mas faz muita diferença para as pessoas ver outras, parecidas com elas, chegando à faculdade, subindo na vida, pelo simples fato de que podem ver que É POSSÍVEL. Hoje conto nos dedos os negros em formaturas. Dedos de UMA das mãos. E sobra. O sentimento geral é o de que nem vale a pena tentar porque ninguém dali conseguiu antes, melhor se conformar.
Índios e quilombolas estão lutando por seus direitos. Há exageros? Sempre vão surgir os aproveitadores e as discrepâncias. Nós, os privilegiados que tiveram mais estudo e condições até hoje, temos que discutir a lei, não a cor das pessoas que estão sendo beneficiadas. Que cobremos. E acho muito estranho logo o Ives Gandra não saber disso...
Temos sim é que brigar por mais educação na base, que permita que possamos ir diminuindo as cotas, que as pessoas tenham mais conhecimento para manter-se saudáveis e exigir seus direitos pelas vias legais, para serem pessoas melhores e portanto pais e mães melhores que vão dar uma educação boa antes mesmo da criança chegar à escola, que não fará milagres, e isso, sim, vai diminuir - jamais fazer acabar, infelizmente - a violência de qualquer tipo, física ou psicológica, a miséria, a falta de saúde, de acesso ao que é bom.
Quem sabe aí as pessoas lembrem em quem votaram, cobrem posições e resultados e se candidatem porque querem fazer algo para mudar - e depois voltem para suas atividades, elas não precisam ficar sempre lá. Seria como ser síndico do prédio: todo mundo passa por lá um dia, dá trabalho, pode ser que tenha uma compensação financeira, mas é muito mais cidadania do que qualquer outra coisa.
E espero que aí, com um pouco mais de igualdade, diminua também - porque não vai acabar, mas pode ser reduzida - a corrupção. Não aquela GRANDE corrupção, mas aqueles pequenos desvios, de TODOS OS DIAS e a que TODOS NÓS sucumbimos uma hora ou outra: o de baixar um filme ou cd da Internet, não avisar se veio troco a mais, estacionar onde não pode porque é mais rápido, passar o sinal só dessa vez porque está com pressa, parar em cima da faixa para alguém descer porque dá trabalho estacionar de verdade, falar no celular dirigindo, ser criativo no IRPF...
Falta muito? Falta... mas faltava bem mais quando eles eram tão invisíveis que nós nem discutíamos isso. Poder fazer isso já é um grande avanço.
Vídeos para pensar e discutir:
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