Os espigões de Porto Alegre (ou o sol é para todos)
A polêmica do momento são os "espigões", termo que surgiu para definir os prédios altos (antes "arranha-céus") que, em tese, descaracterizariam a paisagem dos locais onde forem construídos. Amanhã mesmo a Câmara de Vereadores deve ter uma sessão sobre o tema, para tratar de uma proposta de construção de prédios na orla do Guaíba, culminando próximo ao Museu Iberê Camargo e ao em breve inaugurado shopping Barra Shopping Sul. Outro caso é o da construção na Lima e Silva, em frente ao centro comercial Nova Olaria.
Eu não sou contra a modernização da cidade, muito pelo contrário. Mas acho que construções desenfreadas de prédios imensos em áreas de preservação ambiental e/ou com características peculiares como a Cidade Baixa, são, no mínimo, dignas de preocupação e ajuste. Não sou engenheira, nem arquiteta, nem projetista, mas me parece impossível que não exista solução para o caso do entorno do Guaíba e para o da Lima e Silva sem tapar o sol de centenas. Com menos andares, e provavelmente menos lucros, sim. Mas e o custo para os moradores, para quem paga os impostos, para as pessoas que compraram imóveis residenciais ou comerciais na área apostando em um Plano Diretor que presumia-se sério e só passível de mudanças mediante estudos aprofundados? Isso sem falar no ecossistema local.
Não concordo totalmente com uma das idéias difundidas de que o terreno da orla seja comprada pelo poder público para este investir, porque sabemos no que dá. Que o digam a nossa zona portuária e a nossa Ipanema, que há diversas eleições são objeto de promessas de investimento e nunca saem do papel. Prova disso é que até uma simples faixa de segurança e sinalização (eletrônica e placas) são difíceis de conseguir. Não sei se já colocaram, mas em frente ao Iberê, nos primeiros dias, ao menos, com toda a divulgação da data de inauguração e do movimento que haveria, não colocaram sequer faixa. E alguém fez alguma coisa quanto à iluminação no caminho entre o Museu e o futuro shopping? Nada, ir embora dali é para quem tem carro ou pode pegar táxi, já que até ônibus é difícil, já que só vai para o bairro.
Mesmo assim, a iniciativa privada não pode tomar conta além dos interesses que, estes sim, devem ser públicos e comuns à maioria. Projetos vanguardistas podem e devem ser estimulados, mas não sem o acompanhamento responsável de autoridades e comunidade.
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