Amadorismo x corporativismo
Não é apenas uma questão de corporativismo. É de evitar o amadorismo. Tentar fazer o trabalho de outro profissional sem conhecer a técnica ou agir cegamente a mando de quem não entende do seu ofício - embora pense que sim - é uma atitude fadada ao fracasso ou ao fiasco. A inexperiência é algo que só o tempo resolve (ou não), mas observar e aprender com os erros e acertos, inclusive os alheios, ajuda. Inclusive ajuda a mostrar que, por mais que às vezes pareçamos chatos (e somos!), fominhas (sim, somos!), é preciso insistir na profissionalização, para o bem, inclusive, de quem não está vendo o problema no momento.
O artigo do David Coimbra da última sexta-feira, reproduzido no site do Sindicato dos Jornalistas do RS, fala disso, e é recomendável para a reflexão geral, especialmente de jornalistas e de quem os contrata.
Em defesa da elite
Publicado em 14 de março de 2008
David Coimbra*
Qualquer um pode ser jornalista. Um médico, um advogado, um engenheiro, todos esses, se fizessem um curso básico de um aninho, teriam condições de trabalhar como jornalistas.
A premissa contrária não é verdadeira. Um jornalista não poderia ser médico sem fazer a faculdade inteira de Medicina e mais a residência. Nem arquiteto ou engenheiro ou advogado.
O fato é que o jornalismo é uma profissão muito simples. Muito fácil de ser exercida. E é aí, justamente na facilidade, que residem as dificuldades.
Dias atrás ocorreram dois casos ilustrativos. O assessor de imprensa de um deputado distribuiu rilises com declarações do dito-cujo sobre depoimentos na CPI do Detran ANTES de os depoimentos serem tomados. Ouvi uma penosa entrevista do assessor. Assumiu a culpa pelo desastre, isentou o deputado, pediu perdão. É um jovem, tem dois anos e meio de profissão. Pela forma corajosa como se comportou, acredito que será um bom jornalista e que irá crescer com o incidente. Mas, se tivesse cinco ou seis anos de REPORTAGEM, duvido que cometesse o erro. O exercício da reportagem faz toda a diferença nessa profissão.
O outro caso acontecido é a prova disso. No fim da tarde do mesmo dia, o Túlio Milman, em seu programa na Gaúcha, recebeu a informação de que as aulas no Parobé seriam suspensas devido à morte de um professor. Perguntou à repórter que trazia a notícia qual era o nome do professor. Ela vacilou, começou a pensar, ia falar, mas o Túlio a interrompeu:
- Não confia na memória: confere o nome certinho e depois traz aqui.
O Túlio, jornalista experiente, sabe que o erro está sempre de tocaia e ataca quando a gente está relaxado, quando a gente acha que aquilo que está fazendo é fácil e simples. Por isso, como ouvinte, telespectador e leitor, como consumidor de informação, desprezo o excesso de interatividade. Quando ligo o rádio e ouço "esse programa é feito pelo ouvinte", mudo de estação. Não quero ouvir algo que é feito pelo ouvinte, nem ler o que o leitor escreve. Quero o trabalho do especialista, do jornalista de comprovadas experiência e competência. Quero consumir a elite, não a mediocridade. Até democracia demais cansa.
* Cronista de Zero Hora
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