Fé e Vida: documentários contam histórias de parteiras e benzedeiras
Histórias de parteiras que trouxeram à luz milhares de crianças, mesmo que para atender às mães fosse preciso sair na chuva, à noite, sozinha, enfrentar enchentes, estradas esburacadas e até mesmo deixar seus próprios filhos para trás. Benzedeiras que atraem pessoas de cidades distantes pela força de sua oração. Estas e outras histórias estão nos documentários Fé e Vida, produzidos pelo fotógrafo e documentarista Felipe Henrique Gavioli para a mostra Mulheres e Práticas de Saúde: Medicina e Fé no Universo Feminino, que acontece no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) até 13 de junho.
A partir das entrevistas realizadas em Porto Alegre e Interior pelo historiador Éverton Quevedo, do MUHM, para a exposição, resultaram os documentários Fé - com duração de 20 minutos, sobre as benzedeiras - e Vida - sobre as parteiras, com 17 minutos. Para compor a trilha sonora do documentário Vida, foi escolhida a canção Deixando o Pago, de Vitor Ramil, e a música Entardecer no Pontal, de Renato Borghetti, para o documentário Fé. Felipe Henrique Gavioli é também o autor das fotos dos painéis da mostra, tanto os que retratam as parteiras e benzedeiras como as fotos com as dez médicas homenageadas na Sala Rita Lobato, que também inclui fotos antigas do acervo do museu.
Algumas histórias
Dona Iara Tavares de Ávila Veiga é parteira formada. Em 1952, concluiu o curso de Enfermeira Obstétrica na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Depois, fixou residência em Viamão, onde foi por anos referência. De tão conhecida, tornou-se vereadora, conquistando em seu mandato verbas para a criação de uma enfermaria destinada às parturientes no hospital do município. Sempre levou em consideração as orientações de seus professores médicos, que alertavam para a necessidade de um acompanhamento à futura mãe, desaconselhando um parto "de última hora". Já instalada em Porto Alegre, chegou a abrigar em sua casa mulheres de outras cidades e até de outros países. Mulheres do Uruguai e Argentina iam até ela em busca de atendimento. Aposentou-se com mais de 6 mil partos e uma história em cada um deles. Atendendo aos milhares de chamados, assistiu os mais diferentes costumes - e às vezes precisou intervir, em nome da saúde da mãe e da criança.
Descendente de escravos, Dona Miguelina Maria de Lemos e Silva nasceu em 1902, e é a quilombola mais idosa do Estado. Sempre morou em Mostardas, onde atuou como parteira e benzedeira. Aprendeu a fazer partos com a mãe e a benzer ao longo de sua vida. Ficava dias fora de casa, atendendo a quem precisasse, "fosse negro ou branco". Chás e rezas faziam parte de seu repertório contra todos os males. Hoje, não benze mais, mas continua sendo procurada por pessoas de todos os lugares.
Como assistir
Os visitantes da exposição podem assistir aos documentários no próprio museu, que funciona de terças a sextas-feiras, das 11h às 19h, sábados, domingos e feriados, das 14h às 19h, na avenida Independência, 270, Centro de Porto Alegre. Visitações de grupos e Ações Educativas para alunos a partir de 4ª série devem ser agendadas pelo fone (51) 3029.2900. A entrada no MUHM é gratuita.