Espaço para comentar notícias, falar sobre o cotidiano, política, comunicação, e a cultura que nos leva a ser quem somos. Ou será o contrário?

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Feiura literária

Era para ser um sarau sobre cultura judaica. Mas confesso que não consegui esquecer a leitura do livro "A mulher que escreveu a Bíblia", do Moacyr Scliar, que a Cláudia Tajes fez. A mulher feia do rei Salomão (uma entre centenas), que, de tão feia, só lhe restava escrever, é ótima. Ótima do ponto de vista do humor negro - expressão, entre outras, que o Cláudio Moreno bem fez em lembrar que de conotação racista não tem nada, o preconceito está em nós - e da maneira realista e divertida com que encara o machismo e a situação da mulher, sem deixar de ser atual. Infelizmente. E qualquer comparação com escrevinhadoras (o termo correto) e escrivinhadoras, está vetada!!! Além desta leitura, a Kátia Suman escolheu trechos de Woody Allen, que por si só, é muito bom.

Mas a noite não foi só de gracinhas, embora tenham sido ótimas. Imaginar o rei Salomão tendo que "encarar" o bagulho da própria esposa - ou não, como diria Caetano - foi sem dúvida inesquecível. Luís Augusto Fischer trouxe o texto de Paul Alster, "O inventor da Solidão", que fala muito da percepção, da ausência, da presença e do paradoxo entre essas duas últimas coisas, em vida e depois dela. Já o convidado da noite, Cláudio Levitan, também apresentou seus destaques, mas ele mesmo era o maior dele, por ter reunido no trabalho "Minha Longa Milonga", ao mesmo tempo, um cd, um relato e também uma conversa virtual entre dois primos de origem judaica de Keidânia, na Lituânia, de onde é sua família. Nas músicas e na história contada entre o Leste Europeu e o Rio Grande do Sul, está contado o triste destino que os cerca de dois mil judeus lituanos tiveram, em tempos de regimes facistas pré-nazistas.

Depois de tudo isso, a noite encerrou com a interpretação de salmos pela cantora Heloísa Weinereb. A sonoridade é incrível, linda, mesmo. Para os agnósticos, ateus e afins, é um ótimo exemplo de que nem tudo precisa ser levado para o lado religioso, a não ser que o propósito seja este. Importa é a mensagem, que a música traga paz e harmonia. Quem só gosta do que é pop, e/ou quem curte world music, também vai gostar muito. Shalom!



Nenhum comentário: